jueves, 29 de marzo de 2007

Kosmofonía MbyáGuaraní

PALAVRAS DE KARAI MIRI E KARAI KUARAY
Não abandonemos nosso Teko, nosso modo de ser, porque Teko é a forma de vida e Tekove, o que vive. Nós convidamos a todos a ser Tekove.

Não abandonemos nossas palavras em nossas Casas Sagradas, porque quando abandonamos a Casa Sagrada, nosso pai Ñamandu já não nos escuta.

Os pequenos, frágeis, os anciãos, os indefesos, protejamos, cantemos sempre belas palavras por eles, para isso existimos.

Não nos cansemos de mostrar o Tape Mirí, caminho sem fim, caminho sem males, para que os kunumí (jovens) caminhem sempre numa boa. É necessário que nós, o que temos poderes especiais, doados desde o alto, revitalizemos nossa cultura, mesmo que nossas crianças e jovens convivam com outras culturas.

Nós não temos o serviço básico que os brancos têm, seja luz, água potável, boas estradas, mas possuímos o dom da experiência, a visão e a capacidade de compreender o que é a vida de nossos povos.

Estes encontros devem ser espaços de generosidade, de trocas, de afeto, de dar mesmo que fosse um pedacinho de nossa sabedoria.

Não nos cansemos de insistir com os kunumí (jovens), vamos ajudá-los para que possam nos ajudar futuramente. Referente à Yvy (Terra), podemos dizer que ela não é nada sem todos os elementos que fazem parte dela, as árvores, os animais, as ervas com poderes mágicos. Não permitamos que destruam nosso supermercado vegetal.

Irremediavelmente, existem coisas que os brancos têm e os nossos jovens necessitam para se desenvolver melhor. Especialmente essas coisas que não se pode plantar, tais como: camas, mantas, utensílios de cozinha. Compreendemos perfeitamente que os jovens já não podem continuar dormindo no chão e sem cobertores.
Assim como também entendemos que a medicina ocidental terá que ser parte de nossos tratamentos, justamente porque hoje existem enfermidades que não podemos curar com nossas palavras e ervas porque essas doenças não são nossas, vieram de fora.

Aceitamos que nossos filhos aprendam a ler e a escrever, a somar e a subtrair, para que os estranhos já não os engane. O que não podemos permitir é que nossos jovens acreditem que sua educação se reduz a uma sala de quatro paredes com papéis coloridos, e que Possuem a sabedoria absoluta quando lhes entregam um papel chamado diploma. Isso não. Na escola dos Apytere Guarani, estamos preparados quando chega o Aguyje, a benção do grande creador.

A cada noite, não esqueçam de lançar suas palavras ao Céu para que no dia seguinte Infunda frescor e Alívio em nossas angústias.

Respeitemos as mulheres, elas possuem o dom de limpar nossos caminhos, por isso Ñamandu lhes entregou uma vassoura mágica para que se encarreguem que nada de mal aconteça na terra em que habitamos.

Convidamos a todos a seguir em frente, como boas sementes não nos cansemos de germinar, isto dizemos nós os Apyterê Guarani, que igual a vocês são habitantes primeiros da terra.

Também queremos dizer que nós sempre soubemos da existência de todos vocês, porque sempre soubemos que nossa Grande Mãe teve muitos filhos, os quais, espalhou pela terra, e porque ela assim o quis, agora podemos nos encontrar.

Nós viemos de onde nasce o sol, nossas comunidades se chamam Miri Poty, que se significa Coração Imenso, e Parakau Pukú, que é o nome de um Papagaio que Fala e que ajudou os primeiros homens a se comunicarem.
Queremos que entendam que vocês são nosso Joapykuera, ou seja, os que estão ligados a nós pela mesma essência, por favor entendam que vocês vivem em nossos corações.

Não temos telefone, não lemos, não escrevemos. Mas quando vocês despertarem nas manhãs, e verem a imensa luz que nós chamamos Ko’e Mbyja, saibam e nunca esqueçam sempre que nesse instante estamos enviando a vocês nossos sons, nossas palavras que verdadeiras, nossos cantos encantados para que Ñamandu os ilumine e os guie em suas vidas.

Por último queremos contar, que desde há muito tempo, muitos anos, o povo guarani acredita e busca sem parar a Yvy Marae’y, a Terra Sem Mal. Em busca dela atravessamos mares, desertos, e desta vez enfrentando a imensidão do céu, para poder hoje dizer a todos vocês que ela Existe em nossos corações, e a defenderemos sempre.

[Tradução: Douglas Diegues em colaboração com Kerechu Para]


Fragmento do livro KOSMOFONIA MBYÁ GUARANI, que será lançado em Campo Grande (MS) no dia 12 de abril na Feira do Livro do SESC.

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